9 de set. de 2010

epifania

aquele instante

suspenso

in tenso

only love can break your heart [and your mind]

Ele passou o dia tentando entender o que era o amor. Aquela noite de ontem realmente mexeu com ele, com sua cabeça (ele não se atreveria em dizer 'com seu coração'). Procurou no dicionário: mais de 15 significados e tudo parecia tão frio, distante. Deitou, rolou a tarde na cama, tentando remontar tudo que lhe aconteceu.
Ah, sua vida ia tão bem. Um bom emprego, faculdade tranquila, amigos solteiros e meninas atrás dele. Como poderiam uma noite de sábado, muitas doses de álcool e uma garota o deixar desordenado, perdido?
Levantou. Foi pra sala, ligou a tv, mas não conseguiu fugir das divagações. Assistiu a um filme, lembrava-se dela. Mudou pra novela, lembrava-se dela. SMSs chegavam, esperava que fossem dela (até descobrir que não tinha o número da desconhecida que o conhecera tão bem).
Foi ouvir música, sempre seu refúgio quando precisava espairecer. Colocou Neil Young. Aquele idiota sentimental. Only love can break your heart.
Merda de domingo, de ressaca e de lembranças superestimadas. Descobriu que o seu amor não era bem amor por ela, mas pelo desejo de se ver envolvido com algo inesperado, incompatível. A noite passada ocupava perfeitamente esse desejo. A garota era estigma de encrenca; ele, de autodestruição.
Dormiu. Não quis levantar do sonho, ela tava lá. Não quis mais uma segunda-feira, ela também estaria lá.

desculpa leminski

Iverno

É tudo que sinto

Viver

Não é sucinto

9 de jun. de 2010

"You say you want a revolution..."

Os jovens estão velhos. Ideologias, atitudes e pensamentos caducos. Agem como se tivessem 50, lutam por causas de 68 e escutam músicas dos anos 80. Até a moda é vintage e todo mundo com menos de 25 anos parece gostar de ser retrô.
Posso dividir os jovens em dois grupos: os velhos nostálgicos e os velhos conformados. Vamos começar pelos conformados, eles devem ser mais fáceis de entender. Esses jovens, como já explicita o próprio nome do 'conjunto', vivem conforme as regras lhes ditam. Cumprem suas obrigações, aceitam ordens superiores e desconhecem a contestação. Acreditam, piamente, que o mundo não tem chances de mudar. São apáticos e se esforçam para serem meramente reconhecidos dentro do grupo e, logicamente, para não terem grandes alterações em seus esquemas de vida.
O segundo grupo, dos nostálgicos, é intrigante e "intriguento". Vive em busca de um inimigo corporal, de algo único para reunir a culpa de todos os males do mundo. Percebem-se jovens que anseiam por revolução, mas que nada apresentam de revolucionário. Jovens que esqueceram que o marxismo já foi esquecido, que 1968 é um ano que acabou e que a ditadura no Brasil (mesmo que ainda com algumas pendências) não existe mais. Os nostálgicos querem melhorar o mundo atual e formar uma sociedade nova (e isso merece muito respeito), mas se baseiam na cabeça dos velhos. Iludem-se com palavras de adultos que não cresceram e passam a acreditar que deveríamos voltar ao antigamente. Os nostálgicos, no excesso de referências e na falta de criatividade, perdem tempo polarizando um mundo que deixou de ser polarizado, gritando frases que já não ecoam e seguindo imagens que se desgastaram.
Rótulos, como os desse texto, também não passam de técnicas fracas e limitantes de assistir a ações de outros. E, então, até uma opinião amadora e livre cai na mesmice do discurso: analisar o mundo como nos é apresentado e não como queremos apresentar.

28 de mai. de 2010

e agora?

continuo intrigada com a continuidade.
queria perguntar pra freud: como que fica a pessoa que não sabe lá qual é seu grande outro, seu grande objeto (ou qualquer definição inventada).
pessoa que vive a insatisfação de ser sem cordão umbilical, mas não dá conta de encontrar meios de se preencher.
pessoa que já não grita pela mãe, não chora pelos amigos, nem aproxima o mundo pela palavras.
pessoa que vive, vive fingindo não olhar muito para os lados, porque sabe que assim as chances são maiores de ser feliz, de ser estática.
pessoa que inventa pequenas satisfações para se manter normal, mesmo sabendo que nunca vai ser capaz de considerar um grande desejo. ela sabe que o grande desejo é inalcançável, mas bem que ela queria, ao menos, ter a experiência frustrada de tentar alcançá-lo.
bem, roubaram o carretel.

nós

certas coisas não se explicam. nem por palavras, imagens, nem mesmo por música. certas coisas se entranham, estranhas quando fora de mim.
ser é triste, Ser não é sem limitações.
Ser depende do outro... e outros sempre decepcionam.
definir-se, ato falho. mudanças são as únicas coisas imutáveis: estão sempre presentes.
angústias, porque ninguém é enquanto vivo, sozinho ou acompanhado. completude mesmo, só sob o peso da terra. ser completo é privar-se de vida.
viver, então, tão leve e insustentável (desculpa, kundera). existir é vazio com ânsia de um preenchimento inexistente.

esse texto; pesado, feio e, mesmo assim, um vácuo.

17 de mai. de 2010

correria dia.ria

esquecer que existem músicas para sentir. filmes para tocar. emoções para se cheirar. pensamentos para guardar, amaciar, renovar. palavras para vomitar.
rotina oca, imensa de nada. essa é minha desculpa pra andar tão vazia feito novela da 7.

31 de jan. de 2010

está faltando alguma coisa. alguma coisa no mundo todo. alguma coisa na minha vida mínima. estou surtando por brigas sem lógica. estou chorando por algo que não sou, por momentos que nunca tive. fujo do diante de mim, potencialmente bom. enquanto isso, busco pelo desconhecido, apenas criando expectativas... que caminho posso seguir, se não sei nem onde estou? nem quem sou... merda, está faltando alguma coisa.

10 de jan. de 2010

Campanha dos Sem Sombra (e pouca alma)

"Existem muitos formatos que só têm verniz e não têm invenção. E tudo aquilo contra o que sempre lutam é exatamente tudo aquilo que eles são" (MARCIANOS INVADEM A TERRA - LEGIÃO URBANA)

vamos ser o que dizem que é bonito. vamos ser cultos, nos mostrar inteligentes. vamos gravar as últimas notícias, definir nossa posição política. queremos ser vistos como diferentes, como antipadrão. vamos nos afundar no erudito e esquecer o que é simples, popular. vamos defender bons princípios, seguir as ideologias alternativas de contestação. vamos ser ultrapassados, para que pareçamos vanguardistas. vamos, abertamente, repudiar os rótulos, mas depender deles para sermos reconhecidos. vamos falar, porque ninguém reconhece quem age. vamos ser idealistas, pois os realistas são rejeitados. vamos acreditar na nossa própria mentira, na pseudo-autenticidade, na falta da nossa capacidade em ser.

baralho de eu-lírico

posso ser um número
um registro público
ou um endereço instigante

posso ser alguém
que chegou e foi embora
irrelevante,
uma amiga, um amor
de uma noite

posso ser indecifrável
objeto de estudo
confusão de personalidades
com misteriosa instabilidade

posso ser uma referência
alguém a ser seguido
um exemplo de gente,
um rumo de vida

posso ser o seu ponto de vista
só não consigo ser eu
porque insisto em ser para você